sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Ser português no Facebook

O que é ser português no Facebook? Vamos tentar umas respostas.

Ser português no Facebook é ser melancólico. É dizer no status que "está benzinho", que "me doem os joanetes", que "hoje até faz sol mas ontem fez chuva".
Ser português no Facebook é ser solidário. É apoiar todas causas e mais algumas. É empolgar-se em ser fã de iniciativas reais com a mesma disposição com que se torna adepto do grupo "Tenho idade para ter juízo mas não me apetece agora".
Ser português no Facebook é ser romântico. É postar poemas que rimam "amor" com "dor" no dia em que muda o status de "single" para "in relationship and it's complicated", sendo que a parte do "complicado" é a que lhe dá mais tusa.
Ser português no Facebook é ser provinciano. É perguntar onde em Lisboa se pode comprar boas beldroegas. E saber o que são beldroegas. Mas é também ser cosmopolita, ter na lista de friends gente de várias nacionalidades, línguas, etnias e cores. E pôr todos os amigos estrangeiros a dizer "I miss Portugal" ao postar fotos do último pifo no Bairro Alto ou na Ribeira. É ser louco pela bola. É postar em tempo real todos lances dos jogos, incomodando as únicas pessoas no país que estão no Facebook justamente por não gostarem de futebol.
É ser tímido. É demorar em postar uma foto no perfil com a desculpa de que anda um pouco anafado (só para depois postar uma foto em tronco nu, na praia, exibindo alegremente os michelins).

É ser voyeur. É bisbilhotar as páginas dos outros, sem deixar rasto, sem nada dizer (e reclamar na própria página que nunca ninguém vai lá e diz alguma coisa).
É ser hospitaleiro. É aceitar desconhecidos no seu grupo de amigos pois "o coitadinho (ou coitadinha) pode estar a sentir-se só". É fazer-se de coitadinho só para ser adicionado na lista de pessoas que não conhece. É esquecer as convenções sociais. É já começar no Facebook tratando por "tu" quem na vida real nunca passaria do "você".
É não ter noção. É postar que está numa reunião chata, liderada pelo chefe corno e esquecer que ele vai ler a mensagem pois adicionou-o ontem.
É querer estar presente. É desejar "feliz aniversário" nos aniversários de todos; "Feliz Natal", no Natal; "Boa Páscoa", na Páscoa; "Feliz Dia da Marmota", no dia idem e assim sucessivamente em todas infinitas efemérides da vida.
Ser português no Facebook é ser igual ao que se é. Com todas as coisas que isso representa. Pois o Facebook não existe para mudar o que nós somos. Pode apenas tornar isso um bocadinho mais divertido.
 Edson Athayde, Jornal i, Publicado em 10 de abril de 2010.


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Duas mulheres dentro de mim…

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Talvez seja uma por mês.

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Existe momentos em que dou um grito

Existe outros em que vivo um conflito

Apresento ao mundo a minha dor

Em outros momentos, só consigo falar de amor

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Melodramática

Imóvel

Chorosa ou nervosa

Carente ou decadente

Vingativa ou inconsequente

É nestes momentos em que eu não me apercebo

E transformo-me numa mulher cheia de medo

Cheia de reservas

Coberta de subtilezas

Séria e sem defesas

No minuto seguinte

No papel de mulher fatal

Transformo-me logo na tal

E nesses momentos sou a dona do mundo

Segura e destemida

Presunçosa e atrevida.

Rasgo todos os meus segredos ao meio

E exponho-me num letreiro

De poesia ou texto

Assalto, incendeio...

Conto o que ninguém tem coragem de contar

Explico detalhes que nem é bom me lembrar

Sou assim

Várias de mim

Sorrisos por fora

Angústias a toda hora

Por dentro um tormento

No rosto nem um único sofrimento

No corpo uma explosão de prazer

Nos olhos, deixo o meu desejo se perceber

O melhor é ninguém me conhecer

Fiquem apenas com as minhas letras

Com as minhas palavras

Na vida real sou muito mais complicada

Sou uma em mil

E quem tentou, descobriu

Que viver ao meu lado

É viver dentro de um campo minado

Que vai explodir em qualquer momento

Mas quem esteve nele

Nunca mais quis fugir

E ainda hoje cá se encontra.

Revendedora

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